Mas afinal, o que é a Intervenção Psicomotora?

 

 

 

 

O desenvolvimento motor, nos primeiros anos de vida, é das facetas mais visíveis do desenvolvimento humano. São mais ou menos conhecidas por todos as principais aquisições motoras esperadas na primeira infância, como o permanecer sentado sem ajuda e o andar. Logo a seguir espera-se que a criança corra e comece a associar a locomoção a outras formas de relacionamento com os objetos e o espaço. Por exemplo, espera-se que a criança mostre interesse em brincar com bolas.

Assim, é relativamente comum surgirem as primeiras preocupações a partir de observações do comportamento motor da criança. “O meu filho já tem 14 meses e ainda só anda agarrado”. “A minha filha é muito trapalhona a andar e a correr, está sempre a cair”. “Os outros meninos já jogam à bola, mas o meu filho só consegue chutar se a bola estiver parada”. E com estas preocupações alguns pais começam a procurar respostas junto das escolas e dos pediatras. Normalmente são pouco acolhidas e frequentemente terminam na recomendação de um desporto, que com frequência apenas contribui para o aumento da frustração de crianças e pais.

A Psicomotricidade é por excelência a resposta para estas circunstâncias. Sabe porquê?

A Psicomotricidade é a ciência que estuda e intervém no ser humano como um todo, analisando a interação e integração do corpo e da mente, englobando as funções cognitivas, emocionais, simbólicas e corporais de um indivíduo na sua forma de ser e agir nos vários contextos de vida. Ou seja, investiga de que forma o funcionamento mental (“psico”) se relaciona com o movimento (“motricidade”) de uma pessoa e intervém para que esta relação aconteça de forma integrada, permitindo a concretização do potencial de desenvolvimento de cada um.

Assim, como forma de intervenção é muito abrangente, permitindo responder a diversas necessidades, nos vários períodos do desenvolvimento. A infância é talvez o mais conhecido e também o mais investido por todos.

Na Associação Crescer com Sentido damos especial atenção a estas queixas de “descoordenação motora” que surgem durante a infância e procuramos responder através da Intervenção Psicomotora.

Começamos por avaliar o perfil psicomotor da criança ou jovem (rastreando também, se necessário, outras situações potencialmente associadas à queixa, por exemplo: condições de saúde prévias não diagnosticadas, o que nos permitirá atuar junto das causas, em vez de atuar simplesmente sobre os comportamentos motores atípicos. Esta seria a resposta que o desporto, por exemplo, oferece nestas circunstâncias: a partir da repetição e treino espera conseguir o aperfeiçoamento do movimento. Mas se não se atuar sobre as causas, a repetição apenas vai evidenciar as dificuldades em vez de as minimizar.

O foco da Intervenção Psicomotora é encontrar e atuar sobre a causa “do problema”, procurando sempre manter a intervenção o mais interessante e lúdica possível de acordo com os interesses da criança. E as causas, para uma “descoordenação motora” que se observa, podem ser diversas e até múltiplas. Pode estar relacionada com a tonicidade, que tem consequências ao nível do controlo da postura e da contração muscular de repouso e de ação. Por outro lado pode também ter por base questões de noção do corpo (como é constituído o meu corpo? Consigo movimentar o cotovelo sem movimentar o ombro? Porque faço força com a mão esquerda se estou a segurar na bola com a mãe direita?), de lateralidade (os conceitos de esquerda/direita no corpo, no outro e no espaço) e de equilíbrio (não apenas quando nos movimentamos mas também quando estamos parados). Tudo isto se observa e desenvolve em movimento, e em relação com o espaço e com o outro. O Psicomotricista é o mediador que cria oportunidades para a criança experimentar o seu corpo em movimento, que propõe desafios, que guia a reflexão sobre o corpo em movimento, ponto de partida para o ajustar e o melhorar ou para novos movimentos.

Assim, a Intervenção Psicomotora pode ser a resposta inicial, que cria condições para, por exemplo, a criança/jovem iniciar ou dar continuidade a uma prática desportiva, que então poderá, pelo efeito de treino, contribuir para a melhoria da qualidade do movimento. A descoordenação motora é algo que só merece preocupação mais tarde? Não. Algumas evidências da descoordenação motora são já visíveis a partir da idade pré-escolar (3, 4, e 5 anos) e devem ser avaliadas – “o meu filho está sempre a cair”; “tem uma postura descaída”; “nunca mais aprende qual é a direita e a esquerda”. A verdade é que, em alguns casos, não existe de facto uma alteração no desenvolvimento que permita um diagnóstico formal de Perturbação do Desenvolvimento da Coordenação Motora, mas sim um perfil de desenvolvimento mais imaturo ou que simplesmente não está a cumprir todas as etapas esperadas, nas idades esperadas. Por exemplo: nem todas as crianças gatinham; algumas crianças só executam um movimento quando o conseguem fazer muito bem, outras arriscam mais e mesmo ainda não dominando um movimento não se inibem de o fazer. Mas para saber de facto do que se trata, o melhor é recorrer a uma avaliação profissional, pois se houver necessidade de intervenção, esta é mais benéfica quanto mais cedo for iniciada.

Se ficou curioso sobre a Intervenção Psicomotora, não hesite em marcar uma sessão com uma das nossas psicomotricistas, que terão todo o gosto em o esclarecer ou ajudá-lo e às suas crianças!

Cristina Rubianes Vieira
Psicomotricista – Técnica Superior de Educação Especial e Reabilitação
Associação Crescer com Sentido